Dárlin, de Airton Paschoa
Referência: 85-86372-52-8
DÁRLIN
novela - Airton Paschoa
64 p., 2003, 1ª ed., 14x21 cm, ISBN 85-86372-52-8
Dártin é uma narrativa em primeira pessoa de desencontros múltiplos. O quarentão, marido pequeno-burguês, com suas veleidades intelectuais, encontra Dárlin, garota de programa, a sem-teto, que estremece o eixo Paraíso-Consolação-Paraíso, com seus museus, bancos e automóveis.
Paulista, Boca ou Butanta? pergunta-se, a certa altura, confuso, o personagem; ardiloso, o narrador. Como a sintetizar vias e desvios, paira no ar a interrogação de quem recolhe da cidade de São Paulo seres em frangalhos, relações convulsas - as de classe e as pessoais - que giram tão em falso quanto o protagonista, no seu itinerário sufocante - nem Paraíso, nem Consolação. A descida aos Infernos e inferninhos da bem posta classe média paulistana, na figura do quarentão em crise, desnuda a cidade quatrocentona e suas incongruências.
Espécie de cruzamento das Memórias sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade, e da contribuição machadiana, a novela de Airton Paschoa provoca distanciamento irônico tanto da tradição do romance moral e de costumes, na referência explícita e jocosa à Dama das Camélias, quanto da narrativa psicológica, de cunho existencial/existencialista, indo além das rupturas modernistas. Afasta-se das grandes correntes da narrativa burguesa sem aderir ao esquema pronto e às vezes engessado de sua contrapartida nascida da má-consciência de classe, a narrativa panfletária, a crítica social na qual o narrador paira como que instância intocada e intocável.
Em Dárlin, o narrador é também matéria literária. A voz que fala e de onde fala é também problema. Não existe lugar confortável para o narrador - nem para o leitor. Na esteira da criação literária que desfaz a ilusão naturalista ao bradar contra as soluções fora da vida, as soluções no palco, o narrador de Dárlin carreia para o texto a crise da representação. Sem recair em artifícios metaliterários - saída narrativa para o sem-saída da vida - o texto mostra seus desvãos, suas oscilações, pedaços de realidades, escombros de gêneros e de posições sociais que se pretendam unívocas.
Personagem e narrador respondem às admoestações do leitor incomodado em seus horizontes de expectativas, devolvendo-lhe, atiran-do-lhe à cara, a éscala por que mede a ficção - Já sei, já sei. MAIS DRAMA! MAIS METAFÍSICA! Como em seu livro anterior, Contos tortos, o autor aqui se vale de referências literárias e artísticas que vão da menção sutil à citação direta e de humor, às vezes sombrio. A ironia ácida que cauteriza dolorosamente o lirismo da per-sonagem, malgrado seu, também permanece uma de suas marcas.
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O leitor encontrará, no segundo livro de Airton Paschoa, tridimensionalidade perturbadora, que nenhuma instância, incluindo-se ele pró-prio, poderá evitar. (Andrea S. Hossne)
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Sobre o autor: Airton Paschoa, 45 anos, nasceu em Rio Claro/SP, em 29 de junho de 1958. Cursou Jornalismo, fez mestrado em Literatura Brasileira. Publicou Contos tortos (1999), também pela Nankin Editorial, e guarda inéditos, à espera de editor pródigo, dois livros, Poemitos e Poemas tortos.