
Sonetos em prosa & poemicos
Referência: 978-85-7751-101-3
Decidi não perder mais amigos, puxando-lhes outra orelha, e enfileirar eu mesmo algumas orações acerca destes dois livrinhos que ora apresentamos ao indistinto público, Sonetos em prosa & Poemicos.
Quem na mocidade não se entregou ao prazer solitário de disseminar mitos, nomeando-os ou não, de procriar toda uma prole, esfarrapada embora, na esperança de merecer, uma vez destinada, o belo batismo de "mitologia pessoal"? Até estampá-la mais tarde, descaradamente, tem gente que arrisca, que tudo parece perdoar o verdor da idade, como fez o autor com seus Poemitos (juvenília).
Corridos os anos, entretanto, pejado de cãs e cãibras, enterrados os mitos de ontem, em suma, não há fugir à autópsia literária: morremos com micos nas mãos... Micos então os mitos de antanho? Pode ser, não sei. O pouco que sei é que, se se trata de alguma coisa o que exibe com despejo o segundo livrinho, não passa de micologia pessoal. Senília?
Sonetos em prosa, que abre o volume, reage por assim dizer à impressão visual que tivemos, jovem ainda, ao deparar os sonetos shakespearianos. E quando digo impressão visual, não faço figura, é isto mesmo, impressão retida em retina, os catorze versos de negro no deserto da página luzindo, com seu dístico final entrado — e saindo da combalida caravana, à moda de beduínos se desgarrando sabe Alá por obra de qual miragem.
Que diabos tem que ver com essa alegoria desengonçada o bardo inglês, não me perguntem. Que diabos também tinha eu de soletrá-lo com meu inglês vigário?!
O que se pode perguntar, é o que sempre me pergunto, por que publicar "poesias" quem não é poeta? quem nunca cuidou da arte de versificar, por que destratar sonetos, e elisabetanos, (ingleses, que seja) alheios à tradição mais fecunda das nossas letras?
Ensaio uma resposta, sincera e sem certeza.
Nesta altura da vida, da história, do mundo, da baixa idade moderna, enfim, a literatura, que não existe mais, ou que imaginávamos existisse, se converteu em questão pessoal. Mas pessoal, se nos é lícito forçar o paradoxo, no sentido menos pessoal possível: não porque queira ver o que me tornei, isso já sei há séculos, senão no que pudemos nos transtornar.
São os passos dessa paixão pobre, incertos, que os livrinhos inventariam, ecoam e cobrem.
O autor