CAFÉ COM LEITE
Referência: 978-85-7751-02
LITERATURA E HISTÓRIA PARA JOVENS
Para continuar com a metáfora alimentar e matinal do título desta história, podemos dizer que ela é de fato muito saborosa e juvenil. De um sabor especial para jovens, que apreciam ler histórias movimentadas e com bom gosto.
Esta se passa no fim do século XIX, anos iniciais da República recém-proclamada, envolvendo personagens puramente imaginárias que convivem com figuras históricas, que realmente existiram.
A personagem principal é Anna, uma menina pré-adolescente, simpática, desinibida, voluntariosa e, pode-se dizer, pouco obediente aos pais, o que lhe permite, de forma quase intuitiva e muita coragem, duvidar de costumes e de práticas familiares e sociais de seu tempo e do meio em que vive.
Uma grande fazenda de café no Vale do Paraíba, região fronteiriça entre os Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais é o cenário movimentado das aventuras e histórias vividas por Anna, seus irmãos e primos, seus pais e tios, trabalhadores diversos, Lorenzo (um ex-militar algo misterioso), um fazendeiro inimigo e seus capangas, entre outros.
O conflito principal se estabelece entre o pai e o tio de Anna com o coronel Joaquim Rodrigues, fazendeiro vizinho, homem violento, autoritário e mandão, típico “coronel” das regiões rurais brasileiras da época. Nesse conflito as crianças são envolvidas, ameaçadas, perseguidas, sofrendo mesmo pequenas violências. Aí destacam-se as atitudes firmes e corajosas das crianças e as tensões vão acumulando.
O personagem Lorenzo também desempenha papel fundamental, tanto questionando as práticas cruéis, senão bárbaras, do conflito, de que participara e se desenrolava no Sul do país, conhecido como Revolução Federalista; como também atraindo o “Marechal de Ferro” para a visita que faz à fazenda dos Francisquini. É decisivo assim para o desenlace dos desentendimentos que envolviam os dois fazendeiros, e da tensão armada na história de Café com leite.
Enfim, repitamos, uma saborosa e movimentada aventura, narrada com linguagem acessível, cuidados literários, preciosa e precisa informação histórica de época, problemas sociais e pessoais, envolvendo conhecimento da situação das mulheres, dos trabalhadores — especialmente os negros, logo após a Abolição da escravatura —, as crianças, a educação etc.
Ali estão delineadas relações interessantes entre imaginação e documentação, ou entre literatura e história, ficando ressaltado o principal conflito de fundo do Brasil da época: coronelismo e autoritarismo x domínio da lei e direitos humanos e sociais.
É uma história que une de modo excelente o prazer de ler e a boa informação histórica.
Valentim Facioli