O diretor norte-americano Orson Welles e seus filmes atravessam toda a trajetória de Rogério Sganzerla, atingindo especial densidade nos filmes que o cineasta brasileiro dedica a It’s all true, o projeto que trouxe Welles para filmar no Brasil em 1942 e que nunca viria a ser finalizado por ele. Como compreender a recorrência e a centralidade de Welles na obra de Sganzerla? É este o enigma ao qual Samuel Paiva se lança neste livro, em estimulantes percursos de leitura que se fundamentam na noção de “figura”, assim como definida por Erich Auerbach, para investigar as dimensões alegóricas que Welles alcança nas criações de Sganzerla. Acionando outros interlocutores como Paulo Emilio Salles Gomes com sua reflexão sobre a dialética entre ocupado e ocupante, Samuel Paiva analisa a apropriação de Welles por Sganzerla como uma construção poética que recorre ao outro, ao estrangeiro, para melhor compreender a história e a criação cinematográfica no Brasil. Além de analisar a tetralogia formada por Nem tudo é verdade (1986), Linguagem de Orson Welles (1991), Tudo é Brasil (1997) e O signo do caos (2003), o livro amplia seu objeto de estudo e sabiamente examina também a importante produção crítica de Sganzerla. Aqui se destaca o ineditismo do levantamento realizado, em particular quanto às resenhas publicadas no Jornal da Tarde entre 1966-7, nas quais o cineasta-crítico destila sua irresistível verve pop ao comentar filmes e reprises do circuito comercial. Ao analisar textos e filmes, Welles e Sganzerla, o livro de Samuel Paiva reforça a perspectiva deste “mundo sem limite” sganzerliano, no qual tudo é Brasil, tudo é cinema.
Luciana Corrêa de Araújo
- Medida: Altura: 02cm, Largura: 16cm, Comprimento: 23cm
- Páginas: 400 páginas
- Peso: 585g