Um bandeirante nas telas, de Rodrigo Archangelo
Um bandeirante nas telas, de Rodrigo Archangelo, apresenta-se como uma obra sugestiva de análise histórica do discurso e da propaganda política, tendo o cinejornal como objeto e fonte de sua reflexão.
A utilização desta categoria cinematográfica como fonte histórica é o desafio que tem motivado o autor em seus trabalhos acadêmicos, culminando com o presente livro, edição de sua dissertação de mestrado.
A compreensão em profundidade da iconografia de uma forma geral, em especial da fotografia, assim como da imagem cinematográfica como representações elaboradas dos fatos históricos comprovados - assim como dos (pseudo)fatos criados - tem sido decisiva para uma releitura da história contemporânea brasileira. No cinejornal tem-se, como principais elementos, o documento e a propaganda, ambos atuando em conjunto visando a criação/construção de realidades, processo regido pelos donos da informação e do poder.
Desvendar essa trama é a tarefa a que se debruçou o autor há anos e cujos resultados tem contribuído para reavaliações importantes de natureza multidisciplinar.
Neste livro, Archangelo recupera a imagem mítica do bandeirante, personagem incorporado por Adhemar de Barros, que emerge na cena política como um herói que abre novas fronteiras para o progresso e a prosperidade da nação. Idealizada por Adhemar de Barros e produzida entre 1947 e 1956, a série Bandeirante na Tela constitui-se em fonte histórica relevante sob uma perspectiva política e ideológica.
A reunião deste material foi possível mediante ampla pesquisa realizada pelo autor junto à Cinemateca Brasileira e, sua importante contribuição, reside na competente desarticulação do processo de construção na produção das unidades dessa série, de forma a comprovar como os rituais políticos se apropriam das imagens visando a doutrinação e controle das massas.