Questões de forma, classe, raça e gênero no romance brasileiro do século 19
Este excelente trabalho, que teve como foco inicial o estudo de O cortiço, de Aluísio Azevedo, é verdadeiramente inovador, no sentido forte da expressão.
Produto original de uma tese de doutorado, defendida na USP, pouco tem, ou quase nada, dos cacoetes comuns em trabalhos universitários de crítica literária: vai muito além de crítica literária, que, aliás, também é.
Pode-se dizer que o leitor tem diante dos olhos a discussão, uma nova discussão, de história literária brasileira e internacional dos fins do século 19. Há também uma ótima história das ideias do período, abrangendo o nacional e o internacional, em suas múltiplas e complexas relações e cruzamentos, até hoje pouco estudados e menos ainda conhecidos.
A retomada das questões que, de fato, envolvem o naturalismo, por aqui e alhures, talvez pareça, aos desavisados, algo arcaico e sem forças. Porém, logo que o país superar o pesadelo, de barbárie aberta, que se pode chamar, pelas evidências disponíveis, de psicopata, paranoica e necrófila, que nos assombra, tudo parecerá muito diferente do clima boçal e ignaro, que está por aí.
O naturalismo sem o peso dos preconceitos e moralismo idiotas, que o envolveu desde suas origens, vai ganhar conteúdo civilizatório e vivo, o que permite pensar a formação social e intelectual do Brasil.
Bastante lembrar que a preta Bertoleza, escrava enganada e explorada até os ossos pelo português-brasileiro João Romão, ganha neste estudo um estatuto novo, conforme requer o romance de Aluísio, e nos chega à boca de cena.
Enfim, o leitor deste livro de Haroldo Ceravolo Sereza fará também um percurso novo, criativo e libertário na compreensão do Brasil. A boa literatura, e seu melhor estudo, são especialmente isso.
Valentim Facioli – fevereiro de 2022
Sobre o autor: Haroldo Ceravolo Sereza é graduado em Jornalismo e Letras, doutorou-se no programa de Literatura Brasileira da Universidade de São Paulo e é professor convidado do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura da Universidade Federal de São Carlos.
Sumário
Introdução 9
PARTE I. A Internacional Naturalista
O Brasil na Internacional Naturalista 23
O monstro naturalista: narrar ou descrever 59
Machado de Assis e o problema do “realismo-naturalismo” 81
Iaiá Garcia e o antinaturalismo de Machado de Assis 111
PARTE II. A revolução burguesa brasileira em Aluísio Azevedo
O fator econômico em O cortiço – Bertoleza e a geração das desigualdades 127
João Romão – português-brasileiro 157
O coruja e a paralisia patriarcal 169
Filomena Borges e o pacto de leitura do romance naturalista 185
PARTE III. O corpo, a forma e o romance
Sexualidades femininas no naturalismo brasileiro 203
A carne como romance experimental 223
Homoerotismo masculino em Portugal e no Brasil 249
Considerações finais 263
Agradecimentos 269
Bibliografia 273
- Medida: Altura: 01cm, Largura: 16cm, Comprimento: 23cm
- Páginas: 292 páginas
- Peso: 500 gramas