DAS ESTAMPAS
Referência: 9788577510856
DAS ESTAMPAS
narrativas
Aguinaldo Gonçalves
200 p., 2013, 14x21 cm, ISBN 978-85-7751-085-6
UM LIVRO-EXPERIÊNCIA
Este é um livro de experiências, melhor: uma prosa-experiência, trabalhada, como diz o autor, na composição ´de esferas humanas nos seus retratos, mas não em suas exatas realidades´. Assim, a extrema delicadeza na coleta de resíduos, do mundo e do sujeito, opera uma linguagem estética reveladora de rastos, de rostos, de perfis, de marcas, quase apenas sinais de pele estampados em meios diversos.
Essa prosa-experiência recolhe, nos onze blocos que compõem o livro, uma variedade, pode-se dizer, mágica de tons e registros que embalam (em duplo sentido) os tempos modernos como estes se apresentam, desde o cotidiano vivido e registrado nas minúcias pouco palpáveis até os grandes caminhos e as vastas tradições e edificações das artes e da vida.
Como pode o leitor logo perceber, a diversidade temática (e formal) põe à prova a sensibilidade privilegiada do poeta, agora aventuroso (e venturoso) nos caminhos da prosa. Até certo ponto é uma retomada da tradição do poema em prosa, que no Brasil contou com poetas da estatura de Cruz e Sousa, conquanto este Das estampas promova variações estruturais e formais que funcionam como neblina para marcar suas distâncias. Ocorre que a arte da estamparia praticada por Aguinaldo Gonçalves neste livro é também tributária de sua sólida formação em artes plásticas o que o faz firmar um olhar para quase tudo como quem vê a pintura (especialmente a moderna) em seu modo peculiaríssimo de representação.
Assim, a mímese põe o mundo e o sujeito e sua subjetividade em cena pela complexa tecnologia das estampas. O sujeito, os objetos, os seres e os tempos estão ali mas apenas como sinais ou rastos, são perfis na maior parte em claro-escuro, raramente coloridos, e no mais das vezes exigem a lupa para esclarecimento do que está posto.
Esses aspectos tornam seus textos o que chamamos de prosa-experiência, a qual demanda sua aproximação com a tradição referida do poema em prosa, mas também realizam uma reversão estética que, se não é de notória novidade, repõe, ademais, o velho problema dos gêneros e das formas da poética.
O leitor tem, desse modo, um percurso de leitura que poderá reunir sua própria experiência com a deste livro e ambos estarão enriquecidos para a compreensão do sentido da vida e da poesia.