Entre Palavras e Números: Violência, Democracia e Segurança Pública no Brasil, de Renato Sérgio de Lima
Este livro reúne resultados de pesquisas realizadas durante uma década no campo da segurança pública.
Aborda distintos aspectos, tanto relacionados à produção de conhecimentos no domínio das ciências sociais quanto pertinentes à formulação de tais políticas, como também à organização das agências que compõem o sistema de justiça criminal e às estratégias dos operadores e gestores encarregados de aplicar lei e ordem.
Sem abdicar do espaço onde foi produzido – o espaço acadêmico –, está escrito em linguagem clara e direta, capaz de atender tanto às expectativas de pesquisadores quanto dos operadores técnicos da justiça, bem como públicos amplos, sequiosos por entender problemas relacionados ao controle do crime e da violência na sociedade brasileira contemporânea.
O foco central repousa nas relações entre conhecimento e suas implicações práticas. Como demonstrado no livro, a constituição do campo de estudos sobre violência e segurança, no Brasil, é recente se comparada com a tradição de estudos europeus, norteamericanos e canadenses. Realizei no início dos anos 90 (Adorno, 1993), um primeiro balanço dos estudos, mencionado no texto.
Dez anos mais tarde, Zaluar (1999) e Kant de Lima, Misse e Miranda (2000) realizaram, cada qual a seu modo, extensos balanços e revisões de literatura especializada que demonstravam não apenas o crescimento dos títulos, mas também a diversidade de temas abordados, a pluralidade de perspectivas teóricas e de estratégias metodológicas.
Neste livro, um novo levantamento vem não apenas confirmar essas tendências como também sugerir maior maturidade e densidade científica. Trata-se de um campo intelectual (no sentido de Bourdieu) que adquiriu reconhecimentoacadêmico. Seus pesquisadores recebem financiamento de agências públicas e privadas de fomento à pesquisa. Cada vez mais, têm presença assegurada nos principais fóruns científicos nacionais e internacionais. Ocupam lugar destacado nas linhas de investigação dos programas de pós-graduação. Por todo o país, constituíram-se grupos de referência e redes de investigadores associados. Multiplicaram-se as publicações em veículos científicos.
Ainda assim, suspeita-se que as pesquisas sobre segurança pública não respondem às principais perguntas que todos querem saber: por que os crimes cresceram? Por que as polícias se revelam tão ineficientes no combate ao crime, especialmente os violentos? Por que a maior parte dos crimes não chega a ser punida, tampouco merece investigação policial? Mais do que isto, profissionais da lei penal e, sobretudo, policiais, acreditam que os pesquisadores fazem investigações de gabinete, que não têm noção do que se passa nas ruas, não sabem o que é verdadeiramente enfrentar o criminoso cada vez mais violento e com armas cada vez mais potentes.
Sobre o autor: Renato Sérgio de Lima é doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo e pós-doutor pelo Instituto de Economia da Unicamp. Atualmente é Secretário Geral do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Foi chefe da Divisão de Estudos Socioeconômicos da Fundação Seade (2004-2009), coordenador geral de Análise da Informação do Ministério da Justiça (2000 e 2003) e professor substituto do Departamento de Sociologia da usp (2004 e 2005).