Heranças da ditadura na literatura brasileira contemporânea

Maria Zilda Ferreira Cury, Fabíola Padilha e Cimara Valim de Melo (org.)

Brasil, século XXI: reagir ao legado autoritário do país constitui quase uma exigência moral para todos nós. O carácter regressivo dos mecanismos ideológicos que têm nos tornado imunes ao horror é o mesmo que quer nos transformar numa sociedade de consumo adormecida em que a manipulação e o medo são ferramentas de controle político. Porém, como dizia o filósofo Günther Anders, “não podemos não poder”.

Neste caso, não poder manter a vida neste país, em que pese a irracionalidade das políticas dominantes, herança de autoritarismos pretéritos, colonialistas, racistas e excludentes. Os ensaios de Heranças da ditadura na literatura brasileira contemporânea, firmados por pesquisadoras e pesquisadores das universidades públicas brasileiras, subscrevem com maestria a frase de Anders.

Os textos e filmes estudados trazem a renovada potência do pensamento crítico brasileiro contemporâneo e sua capacidade de intervir sobre as raízes profundas das memórias da ditadura civil-militar recente do país. Os povos indígenas, as questões de gênero, os testemunhos dos familiares dos sobreviventes, as histórias da repressão militar, as corporeidades femininas e masculinas violadas, os arquivos reparadores são alguns dos elementos que interpelam o repertório simbólico e histórico da produção contemporânea brasileira literária e cinematográfica analisada e que levam o leitor para a futuridade dos caminhos combativos e criativos de luta por verdade e justiça no Brasil.

Paulo Thomaz

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Sumário:

Apresentação 

Heranças de um passado obtuso: o legado da Ditadura Militar e a ficção como acerto de contas - 11
Cimara Valim de Melo, Fabíola Padilha e Maria Zilda Ferreira Cury

Ensaios

Marcas da ditadura militar em povos indígenas do Brasil: narrativas contra-antropológicas - 21
Cimara Valim de Melo

Iracema, uma transa amazônica: ditadura, colonialidade e memória - 61
Rejane Pivetta de Oliveira e Cláudia Luiza Caimi

Luto e resistência em Mulheres que mordem, de Beatriz Leal - 85
Maria Zilda Ferreira Cury e Fabíola Padilha

Memórias de um desaparecimento em Nem tudo é silêncio, de Sonia Regina Bischain: as implicações de um luto interdito - 117
Gínia Maria Gomes

Crônicas publicadas durante a ditadura militar: notas sobre Antonio Callado e Rubem Braga - 143
Jaime Ginzburg

Anistia e cobrança: relendo Rubem Fonseca - 159
Daniel R. Bonomo

Arquivar a história, arquivar a si mesmo: ditadura e escrita de si ficcional - 183
Mônica Gama

Relatos autobiográficos e romances de mulheres sobre a ditadura - 211
Eurídice Figueiredo

Tempo passado, marcas presentes: ditadura e violência de gênero em alguns romances brasileiros do século XXI - 241
Cristiane da Silva Alves

O estranhamento como ética da representação em O corpo interminável, de Claudia Lage - 267
Dayane de Oliveira Gonçalves

A sobrevivência da “Torre” em lembranças, traumas e afetos - 285
Elcio Loureiro Cornelsen

A sujeição do corpo subversivo: autoritarismo, gênero e sexualidade no conto “A negra Zuleika”, de Bernardo Kucinski - 315
Weverson Dadalto

Enterrar os corpos, enterrar o legado da ditadura em páginas de literatura - 343
Luciana Paiva Coronel

Autores presentes na edição - 371

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