
HÓSPEDES DO VENTO
Referência: 9788577510542
HÓSPEDES DO VENTO
contos
Chico Lopes
144 p., 2010, 14x21 cm, ISBN 978-85-7751-054-2
Este terceiro livro de contos de Chico Lopes veio consolidar uma prática narrativa instaurada na última década (Nó de sombras, 2000 e Dobras da noite, 2004) com a qual a novidade literária é uma espécie de vertigem com abismo provável sempre à vista.
São histórias do interno e do externo de personagens amarradas a um mundo cuja compreensão necessita do olhar e da consciência, instâncias que, entretanto, parecem desalojar-se mutuamente. O desencontro entre o fora e o dentro é revelado por uma construção textual refinada e sutil, que suprime os limites e transita em matérias de difícil definição.
Os títulos dos três livros são emblemáticos do processo de ficcionalizar essas matérias. O efeito de presença de realidades fantasmagóricas é forte e os pequenos dramas humanos se tornam verossímeis porque são de personagens iguais a nós – eu e você, leitor, e talvez também do próprio escritor – e ainda representações do cotidiano ruinoso, buscas sem encontro, com perdas e ruínas.
Assim, cada conto, ao fim e ao cabo, é um relato de violência internalizada – parece que introjetada por cada sujeito, para falar com a linguagem da psicanálise – contudo nada espetaculosa, feita antes de frustrações, ilusões perdidas, desencanto, alienação e mesmo desespero, ou desesperança. O clima geral das histórias, apesar de não faltar ironia, é pesado, mas as notações sobre aspectos e elementos naturais e sociais às vezes formam uma lufada de ar fresco e alguma claridade solar. Outras vezes, não. E tudo forma unidade para esclarecer e revelar essas subjetividades danificadas.
As experiências de vida das personagens são engendradas por narradores multifocais, como as lentes desses óculos modernos. São também experiências dos processos de mudanças urbanas, para melhor ou não. Isso oferece lugar para o implacável mas também para alguma piedade, em especial frente ao desespero. E nada está para o otimismo, nem mesmo as ilusões construídas e reconstruídas para um percurso que acaba esvaziado. Há uma negatividade intrínseca nesse mundo cujas esperanças são tensas demais, senão contraditórias, para alguma satisfação.
O leitor sai dessas histórias, após bem lidas com cuidado e atenção, enriquecido das personagens – alteridade inevitável – do acervo de um notável escritor e sua linguagem e de si próprio, que se pode repensar enquanto humano, sensível e frágil.