O consenso das oportunidades, de Tatiana de Amorim Maranhão
Banco Mundial e PNUD no combate à pobreza
Este livro descreve os deslocamentos no discurso das reformas neoliberais que, ao longo dos anos 1990, criaram condições políticas para uma convergência inusitada entre o receituário econômico ortodoxo do Banco Mundial e as recomendações do PNUD para o desenvolvimento humano no âmbito das Nações Unidas.
As questões estruturantes que, desde os anos de 1950, suscitaram os debates sobre os problemas das formações nacionais, suas determinantes históricas e os rumos e entraves ao desenvolvimento nas sociedades periféricas haviam saído de cena. Elas cederam a um novo tipo de diagnóstico do problema da pobreza: situada nos países da periferia capitalista ou em bolsões no interior de regiões desenvolvidas, esta não era mais o efeito das incompletudes e descompassos dos processos de descolonização e as situações de subdesenvolvimento ou dependência daí decorrentes; desconectada das formulações sobre a origem da profunda desigualdade social e de suas assimetrias políticas, a pobreza se reproduzia como problema nas circunstâncias individuais que levavam às situações particulares de privação.
A perspectiva que se abria aí, forjava, à esquerda e à direita, um consenso de tipo moralizante que enfatiza a condição de pobreza individual como alvo das intervenções a partir de novas referências normativas formuladas pela abordagem das capacidades de Amartya Sen. Foi a percepção do Banco Mundial de que deveria levar em conta os grupos de influência, as opiniões, os interesses presentes na sociedade para conferir estabilidade política às reformas de austeridade dos anos 1990 que convergiu com o novo entendimento elaborado no âmbito do PNUD/ONU sobre o desenvolvimento como expansão de um ambiente de oportunidades. A abordagem de Sen forneceu o esteio teórico e o suporte institucional desta convergência, cujo elemento determinante foi a mudança de nível, do horizonte das nações para a vida das populações, nas intervenções prescritas pelas organizações internacionais.
Sobre a autora: Tatiana de Amorim Maranhão é doutora em Sociologia pela USP, professora da FACAMP/Campinas. Pesquisadora do SAGEMM, da Rede Interdisciplinar de Pesquisadores e do CENEDIC-USP. Desenvolve pesquisas em sociologia política, políticas sociais, pobreza e cidadania; analisa o sentido político das reformas neoliberais e seus impactos sobre as concepções de desenvolvimento. Publicou “Amartya Sen e a responsabilização dos pobres na agenda internacional” (Contemporânea, 2016) e “O sentido político das práticas de responsabilidade social empresarial no Brasil” no livro coletivo Saídas de Emergência (Boitempo, 2011).