Fela Kuti, de Rosa Couto
Contracultura e (con)tradição na música popular africana
Tendo à frente o desafio de identificar e compreender aspectos da vida e da obra de Fela Kuti (1938-1997), Rosa Couto concebe caminhos que a levam para a África. A África que encontra é, ao mesmo tempo, pré-moderna, moderna e pós-colonial; dela e de diálogos multiculturais surgem as referências que se impregnam na música de Fela.
As sonoridades africanas, o blues, o jazz, a música erudita, a contracultura, a revolução comportamental, o Black Power, Xangô e Malcolm X, Ogun e Martin Luther King, a crítica social, o ativismo político, a indústria fonográfica, a arte e a música como ritual que inebria, religa, elucida e convida para a luta. Eis alguns dos muitos elementos da obra do artista, que são mobilizados por Rosa Couto nessa análise competente e envolvente que ora recebemos em livro.
Para além de fazer conhecer os sentidos da música, da performance, da militância de Fela Kuti, o livro faz pensar na atualidade da reflexão que ele produziu sobre o racismo, o preconceito, a negritude, o “ser africano”. Faz pensar nas razões que informariam, nos dias de hoje, a ausência da África nos noticiários daqui e de alhures. Faz pensar na recente retomada do afrobeat (e no afro e no beat). Faz, finalmente, pensar que deveríamos sempre, de algum jeito retornar à África, em percursos semelhantes aos seguidos por Rosa Couto, em busca de saber um pouco mais de nós.
Marcia Tosta Dias
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