Marxismo sociológico, de Michael Burawoy
Michael Burawoy notabilizou-se por sua interpretação do fordismo nos Estados Unidos empreendida a partir de sua experiência como operário semiqualificado de uma fábrica em Chicago. Principal referência do debate sobre o processo de trabalho, Burawoy reconciliou a teoria marxista com os estudos etnográficos, superando as interpretações reducionistas da classe operária que não apreendiam o papel da consciência de classe no processo de produção da disciplina fabril.
Apesar do amplo reconhecimento de sua obra dedicada aos operários do sul de Chicago, Burawoy não se deixou acomodar às rotinas acadêmicas. A fim de compreender a reprodução da classe trabalhadora no socialismo burocrático de Estado, lançou-se ao trabalho de campo na Hungria socialista e, posteriormente, na Rússia do período da restauração capitalista. As etnografias do trabalho operário produzidas pelo sociólogo britânico não apenas captaram intimamente o funcionamento do despotismo burocrático como igualmente iluminaram o modo de vida da classe operária soviética no momento de seu ocaso.
Ao longo de sua trajetória como etnógrafo do trabalho, Burawoy passou muito tempo ao lado dos operários em locais tão distantes como, por exemplo, uma mina de cobre em Zâmbia, uma oficina nos Estados Unidos, uma indústria metalúrgica na Hungria e uma fábrica de móveis na Rússia. Simplesmente não há registro na história da sociologia de alguém que tenha trabalhado em tantos continentes praticando o estudo de caso ampliado.
Refletindo sobre essa trajetória muito especial, Michael Burawoy legou-nos não apenas ricos subsídios para reinterpretarmos as grandes transformações que moldaram o atual ciclo de globalização capitalista, como também valiosos ensinamentos a respeito da relação política do conhecimento sociológico com o mundo social. Para tanto, ele recorreu às suas fontes prediletas de imaginação sociológica, ou seja, Frantz Fanon, Antonio Gramsci, Leon Trotsky e Karl Polanyi.
Como o leitor logo perceberá, Marxismo sociológico: quatro países, quatro décadas, quatro grandes transformações e uma tradição crítica é, sem dúvida, um dos mais vibrantes livros de sociologia publicados em todo o mundo nos últimos 20 anos. Um livro capaz de seduzir tanto os que necessitam aperfeiçoar o ferramental de suas próprias investigações quanto os que buscam simplesmente interpretar as antinomias do presente.
Ruy Braga
Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo
Michael Burawoy é professor do Departamento de Sociologia da Universidade da Califórnia em Berkeley e autor de, entre outros livros, Manufacturing Consent: Changes in the Labor Process Under Monopoly Capitalism (University of Chicago Press, 1979) e The Politics of Production: Factory Regimes Under Capitalism and Socialism (Verso, 1985). Foi presidente da Associação Americana de Sociologia (ASA), em 2004, e preside, atualmente, a Associação Internacional de Sociologia (ISA).