MEZZO VÔO

MEZZO VÔO

Referência: 978-85-7751-00


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Para quem nasce “menina lagarta”, parece que a vida minúscula, desolada, já está traçada. Está destinada a ela porque tem pela frente os fossos sociais que conhecemos tão bem. O mundo da poesia, da música, da arte, dos livros, enfim, parece um projeto absurdo diante da necessidade de sobreviver. Sônia Barros é econômica para tratar com precisão este quadro social: “Quartinho/ (penico, lamparina, espiriteira).”

Alguns, entretanto, pela imaginação que insiste em brotar em terra hostil, acabam por conseguir levantar vôo. As histórias que nascem dos lábios da mãe cansada incendeiam a imaginação da menina. Há, porém, os que ficam perdidos pelo caminho sem poder sentir “dos dedos do vento, / o alívio/ do vôo-véu.”

Em Vidas minúsculas, Pierre Michon fala de um sentimento de traição que parece acompanhar quem sai de roças, de pequenas cidades e das margens para alcançar o mundo da cultura. É um processo doloroso que faz incisões definitivas no corpo. Carrega-se culpa por aqueles que não tiveram a mesma chance. Há uma voz incorporada que diz: tome o seu lugar, você é estranho no ninho.

O livro todo está permeado por dois pólos: de um lado, o desejo de alçar vôo, de fazer a palavra ganhar carne. Do outro, o medo da não germinação, da “voz dormente no ventre, da incapacidade de florescer.” As asas viram cotocos, fogem do corpo do poeta. Esta “voz que não germina” contrapõe-se ao desejo de uma outra de “finas cordas” e “perfeita urdidura”. A sensação de fracasso, de não se alcançar a poesia, de ficar apenas com fiapos na mão, faz parte das incertezas de quase todo poeta. Principalmente, daqueles nascidos “no solo de agosto”.

Sônia Barros compõe uma delicada partitura, cheia de temas recorrentes. Uma música de câmara que ora ilumina ora escurece. A voz do poeta está presa ao próprio sentido do corpo. Ressalto uma mudança de ponto de vista quando ela deixa de olhar para o alto e volta seu olhar para a relva e as formigas. É quando surgem os olhos do filho. Da sobrevivência improvável (Origens) ao nascimento do filho completa-se um ciclo. A poesia surge como possibilidade de reflexão sobre esse trajeto e de cauterização de feridas.

Encaro os poemas de Sônia como um interrogar-se sobre a capacidade poética. Uma necessidade de refletir sobre sua poesia antes mesmo de lançar-se sobre ela. Teve a necessária paciência. Cevou e esperou. Ela veio. Agora, é perder o medo e buscar a inteireza do vôo. É entregar-se àquela que o poeta Rubens Rodrigues Torres Filho chamou de “a obscura religião dos pássaros”.

DONIZETE GALVÃO

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