NARRADORES DE MACHADO DE ASSIS

NARRADORES DE MACHADO DE ASSIS

Referência: 9788577510184


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NARRADORES DE MACHADO DE ASSIS
Gabriela Kvacek Betella
240 p., 2007, 16x23 cm — Co-edição com a Edusp — ISBN 978-85-7751-018-4
Gabriela Kvacek Betella mostra neste livro como Machado de Assis criou, em seus dois últimos romances, Esaú e Jacó e Memorial de Aires, e nas crônicas da série A Semana, uma técnica narrativa original que integrou formas literárias (como a memória ficcional e a crônica) aos conteúdos sociais extremamente instáveis e observados no Brasil no final do século XIX e primeiros anos do século XX.

Embora a crítica moderna considere que Machado de Assis tenha alcançado sua maturidade
apenas depois da publicação das Memórias Póstumas de Brás Cubas, ela, na
realidade, pouco se concentrou na análise mais aprofundada de seus dois últimos
romances, escritos já no século XX, assim como de certa maneira negligenciou a
sua contribuição derradeira como cronista para a série intitulada A
Semana
. Talvez haja nisso, implicitamente, a idéia de que tais obras
representariam uma fase de ´decadência´ de nosso maior escritor. O presente
trabalho procura ir contra essa tendência, mostrando que, nessas obras, Machado
de Assis atingiu um grau de domínio e perfeição da técnica narrativa, se não
superior, pelo menos igual ao de suas produções mais consagradas.

O livro
explora os temas maciadianos seguindo de perto a proposta de encontrar o nexo
entre a ideologia do rentista do início do século XX no Brasil e seus modos de
pensar, sentir e dizer através dos narradores criados por Machado de Assis,
cujos parâmetros estão nos princípios fecundos da crítica inovadora de Roberto
Schwarz. Contudo, apesar de sua inegável filiação a essa importante tradição de
leitura dos textos machadianos, a autora não se restringe aos seus aspectos
exclusivamente sociológicos, focando a sua análise no modo como Machado de
Assis, ao produzir esses tipos de narradores, também criava uma técnica
literária extremamente original, que procurava tanto absorver o melhor da
literatura universal como adequá-la para o meio brasileiro. Além disso, também é
ressaltado no livro o caráter moderno desse procedimento, demonstrando a
profunda consciência crítica do escritor, a mesma que o afastava dos
preconceitos provincianos e dos modismos imitativos de sua época. Pode-se
encontrar exemplos dessa originalidade de Machado logo no primeiro capítulo,
quando a autora estuda a armação elaborada por ele ao escrever dois romances com
a mesma ´moldura narrativa´, e no último capítulo, quando o estudo das
despretensiosas crônicas revela ligações entre forma narrativa e um ethos
similar ao que Machado escolheu para seus grandes romances em primeira
pessoa.

Na realidade, pode-se afirmar que o grande inspirador das idéias
elaboradas neste trabalho é Antonio Candido, que viu na ficção de Machado de
Assis um dos auges da superação dialética entre o local e o universal na
literatura brasileira. Segundo ele, através de técnicas narrativas heterodoxas
Machado trouxe para primeiro plano o ´homem existente no substrato dos
homens de cada país, região, povoado´.

 

 

 

 

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