Nyumba-Kaia
Mia Couto e a delicada escrevência da nação moçambicana
Nyumba-Kaya, nome de uma casa ficcional, em seu poder metafórico, sintetiza um desejo: a vontade de nação de um país Moçambique. Criação do escritor Mia Couto, essa casa, ao mesmo tempo que expressa uma vontade, é reveladora das problemáticas desse mesmo desejo. Não é acaso que Nyumba-Kaya necessite de um hífen que a agregue, de uma ponte que a una na sua complexa diversidade. Nessa perspectiva, também não é por acaso que se entenda que o nome dado à nação seja sua metáfora, sua busca por constituir comunidades de pertença que reúnam as muitas gentes que sob seu nome se albergam. Daí a importância de se pensar a metaforicidade das casas.
Nyumba-Kaya é uma reflexão sobre a metaforicidade da casa-nação Moçambique, sobre os modos como o fazer literário toma parte na escrevência (que é mais que o ato de escrever; é uma escrita emaranhada no tempo, carregada de sonhos, desilusões, intenções, histórias) de uma jovem nação africana (nascida, formalmente, em 25 de junho de 1975).
Percorrendo a obra de Mia Couto, Dércio Braúna a toma como lugar de boas e instigantes perguntas à história. Analisando os modos como o escritor traz para seu texto as questões de seu tempo, como pensa o olhar do presente sobre o passado, como lida com os futuros imaginados nesse passado, suas reflexões nos trazem um olhar perscrutador sobre a complexidade da história de Moçambique, estabelecendo um diálogo profícuo entre história e literatura, num exímio e delicado exercício de alfaiataria do tempo, como diz Mia Couto sobre o trabalho dos historiadores: os historiadores costuram esses trapos, atribuindo um sentido para ordenar os soltos e salteados retalhos. Nesse ofício de alfaiates do Tempo.
Sobre o autor: Dércio Braúna [1979] é graduado em História [UECE] e mestre em História Social [UFC]. Nyumba-Kaya dá continuidade a suas investigações acerca da obra do escritor moçambicano Mia Couto e suas problemáticas pós-coloniais. É também poeta e contista, autor das obras: [poesia] O pensador do jardim dos ossos; A selvagem língua do coração das coisas; Metal sem húmus; [conto] Como um cão que sonha a noite só; [estudo] Uma nação entre dois mundos.