
Juracy Assmann Saraiva
224 páginas
Este valioso estudo, agora em 2ª edição pela Edusp/Nankin, analisa os três romances de Machado de Assis que têm o estatuto da autobiografia ficcional: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro e Memorial de Aires.
Assim, este livro prioriza a análise e interpretação dos narradores das três obras machadianas, e também as relações que, como agentes do discurso, eles estabelecem com elementos particulares da narrativa, tais como a temporalidade, a focalização da matéria histórica e ainda o receptor interno do texto.
Daí surge a imagem de um escritor altamente complexo, mesmo contraditório de vez em quando, e cujo posicionamento estético o leva a uma experimentação inovadora, operando a autobiografia ficcional como desafio permanente. Essa radicalidade machadiana produziu não pouca confusão nos leitores e na crítica especializada, o que levou e talvez ainda leve muita gente a confundir aqueles romances com a “biografia verdadeira” de Machado.
Tendo em conta o que de melhor a crítica escreveu sobre tais livros, este estudo, com a melhor ferramenta analítica e interpretativa, em linguagem acessível, procura revelar e compreender as inúmeras máscaras de que Machado de Assis se serviu, envolvendo quem o lê e analisa. Juracy Assmann Saraiva descarta o velho chavão do recurso ao biografismo ou às anedotas sociais do tempo, para desenvolver teses muito férteis sobre o estatuto do narrador. Este, suposto “dono da palavra”, encena na narrativa problemas os mais diversos: sua duplicidade (ou multiplicidade), a fragmentação dos discursos, a precariedade da noção de verdade, o complexo jogo de interesses vitais e sociais e a intertextualidade fundamental na literatura, entre outros.
O que o leitor tem em mãos é um trabalho plenamente consciente das armadilhas machadianas, instituído como lente que examina tudo à distância crítica adequada para poder ver o objeto na inteira complexidade artística que o funda.