"Era duro rimar orgasmo com guerrilha" - Alex Polari pela crítica contemporânea, de Marcelo Ferraz, Nelson Martinelli Filho e Wilberth Salgueiro (orgs.)
“Não era fácil / fazer o amor / entre tantas metralhadoras / panfletos, bombas / apreensões fatais / e os cinzeiros abarrotados / eternamente com o teu Continental, / preferência nacional”, escreve Alex Polari em “Amar em aparelhos”, poema de Inventário de cicatrizes (1978).
Encerrando a quarta estrofe do mesmo poema, o poeta acrescenta: “era duro rimar orgasmo / com guerrilha / e esperar um tiro / na próxima esquina”, versos que dão título a este volume da coleção Crítica Contemporânea, pela editora Alameda.
Se não acreditamos que um breve excerto possa expressar com precisão a síntese de uma poética, podemos ao menos afirmar que aqueles citados logo acima remetem a significativas linhas de força da obra do então jovem militante da Vanguarda Popular Revolucionária
durante o período mais cruel dos Anos de Chumbo.
Preso aos 20 anos, em 1971, liberto aos 29, Polari testemunhou a repressão, a censura, a clandestinidade, o sequestro, a tortura, a ameaça, a violência física e a psíquica, a precária condição de vida no cárcere, o assassinato de seu amigo Stuart Angel.
As impressões da ditadura militar brasileira, portanto, são centrais em seus três primeiros livros: Inventário de cicatrizes, já mencionado e mais conhecido dentre suas obrasl iterárias, Camarim de prisioneiro (1980), mescla de verso, prosa, imagens, notícias etc., e Em busca do tesouro: uma ficção política vivida (1982), narrativa autobiográfica que aborda seus primeiros anos de militância, a captura pelos militares
Esta coletânea dedica-se a estabelecer um panorama crítico de variados aspectos da obra e da trajetória de Alex Polari, como forma de ampliar o espectro de interpretação da ditadura, por via do texto poético, na interseção entre campos do conhecimento como Teoria literária, Filosofia, Sociologia, História, Psicanálise.
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Sobre os organizadores: Marcelo Ferraz é Professor de Teoria Literária da Universidade Federal de Goiás (UFG) e Doutor em Estudos Comparados de Literaturas de Literaturas de Língua Portuguesa pela USP. Nelson Martinelli Filho é Professor do Instituto Federal do Espírito Santo e professor do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Espírito Santo. Wilberth Salgueiro é Professor Titular de Literatura brasileira na Ufes – Universidade Federal do Espírito Santo e autor dos livros de poemas Anilina (1987), Sonetos (2021) e Sonetos-piada & outros nem tanto (2024), entre outros.
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Sumário
Apresentação 7
A escrita do cárcere e o testemunho poético em 'Camarim de prisioneiro' e 'Inventário de cicatrizes', por Claudio Mello e Sirlei Fontoura 15
Com o “corpo entre as grades e a vida entre parênteses”: poesia e denúncia política na campanha da anistia, por Marcio de Souza Castilho 37
Um Inventário de Perplexidades: entre experiência histórica dolorosa e poesia, por Beatriz de Moraes Vieira 63
Crítica literária de testemunho?, por Cristiano Augusto da Silva 87
Alex Polari, ourives de reveses: presente, passado e futuro em Camarim de prisioneiro, por Camila Hespanhol Peruchi 111
Truncados diálogos: o poeta, a tradição e seus contemporâneos, por Marcelo Ferraz 139
Da performance ao poema: o que pode a arte em regimes ditatoriais e agora, por Mariane Tavares 177
Amar em aparelhos: o destino da pulsão e a relação de objeto no contexto opressor da ditadura militar, por Cleidson Frisso Braz 203
Testemunho, erotismo e sublimação na poesia do cárcere político, por Nelson Martinelli Filho 241
Apontamentos sobre 'Em busca do tesouro' (1982) de Alex Polari: a capa, o paideuma e o fim do jogo, por Rafael Fava Belúzio e Wilberth Salgueiro 277
Organizadores 295
Sobre os autores 297
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Coleção Crítica Contemporânea - Andréa Sirihal Werkena & Rafael Fava Belúzio (Coordenadores)