Como contar os fatos, de Elisa Bachega Casadei
“Eis uma máquina de linguagem. Como ela funciona?”. Essa era a indagação que o poeta Wystan Hugh Auden usava para ilustrar o fato de que a primeira questão que lhe interessava quando ele lia um poema era a técnica empregada.
Também enquanto “máquinas de linguagem”, as reportagens jornalísticas podem igualmente ser vistas sob essa perspectiva, que toma a técnica empregada na montagem das estórias como o elemento privilegiado de sua inscrição escriturária. É desta perspectiva que irá partir o presente trabalho, ao estudar como a narrativa jornalística de revista mudou no decorrer do século XX, a partir das modificações nos códigos compartilhados de narração.
Se a missão do jornalista é justamente contar histórias, os recursos técnicos aplicados para o seu cumprimento nem sempre foram os mesmos: é possível notar de maneira bastante clara que as técnicas empregadas nas montagens das estórias sofreram modificações consideráveis, calcadas em práticas profissionais que se deslocaram e em um campo de valores sujeito a constantes deslocamentos.
A história da narrativa do jornalismo de revista, portanto, está ligada aos procedimentos estilísticos padrões adotados pela prática e que determinavam diferentes conjuntos de pressupostos, em cada tempo histórico, na forma como uma estória deveria ser contada, de acordo com os valores profissionais vigentes.
Sobre o autor: Eliza Bachega Casadei é doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e professora da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FAAC-UNESP). Mestre em Ciências da Comunicação e bacharel em jornalismo pela ECA-USP.
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Sumário
Introdução: A História da Narrativa: pelo estudo dos códigos padrões de narração na reportagem em revista - 15
O que entendemos por uma história da narrativa do jornalismo de revista - 16
O lento advento da produção noticiosa no jornalismo de revista - 2
A história do jornalismo de revista e seus códigos padrões de narração - 31
Capítulo 1
O Jornalismo e seu Tripé Articulador: um lugar social, uma prática e uma escrita - 37
Entre as duas escoras do tripé: lugar social e prática da atividade jornalística - 39
Uma escrita: em torno das narrativas referenciais e do problema do referente - 46
Capítulo 2
O Jornalismo como Narrativa: a atualização de elementos virtuais em texto - 55
O modelo da análise estrutural da narrativa - 56
O modelo das três mímeses - 66
Capítulo 3
O Código Narrativo e a Tessitura de Vozes em um Texto: repetições e translações de sentido na forma da narrativa - 113
Da estrutura à estruturação: entre o diagrama e a partitura - 116
O(s) código(s) e os plurais da narrativa - 116
Os códigos na narrativa jornalística - 128
A partilha do sensível - 106
Últimas considerações de ordem metodológica - 109
Capítulo 4
A Revista da Semana e a Narrativa Mise en Abyme: a reportagem como martírio do repórter (1900-1940) - 113
Os códigos padrões de narração na Revista da Semana - 116
O código autorreferencial - 116
O código pathético - 128
O código protocolar - 134
A função testemunhal e o martírio do repórter - 140
Capítulo 5
O Cruzeiro e a Reportagem como Experiência: a divisão da função testemunhal entre o repórter e as fontes (1940-1960) - 151
Os códigos padrões de narração em O Cruzeiro - 159
O código experiencial em primeira pessoa - 159
O código experiencial em terceira pessoa - 164
O código biográfico - 171
O código do desvendamento - 177
O código evocativo - 179
A descaracterização dos códigos narrativos de O Cruzeiro nos anos 60 - 180
Capítulo 6
Manchete, Fatos e Fotos e Realidade: a busca por novos padrões narrativos no jornalismo dos anos 60 - 185
O projeto editorial da revista Manchete: um periódico de transição - 185
Os códigos narrativos da revista Manchete - 189
O código experiencial em primeira pessoa e o código experiencial impressionista - 189
Código inquiridor - 192
A explosão dos códigos experiencial em terceira pessoa e biográfico - 193
O código impessoal - 194
O código numérico - 200
O código analógico - 203
O código da opinião pública - 206
O projeto editorial de Fatos e Fotos - 210
O projeto editorial de Realidade - 212
Esboços de novos regimes narrativos na reportagem - 217
Capítulo 7
As Provas de Verdade e o Jornalismo Interpretativo: reportagem como tradução em Veja, Época e IstoÉ (1970-atual) - 221
O projeto editorial da revista Veja - 222
Os códigos padrões de narração na revista Veja - 226
O repórter como mero apurador - 226
O código do especialista - 229
O código da voz impessoal da ciência - 231
O código do prognóstico - 233
O código documental - 234
Reportagem enquanto duração versus reportagem enquanto tradução - 235
Considerações finais: o Jornalismo como Instituição Linguística e os Diferentes Regimes Narrativos na Reportagem em Revista - 253
Referências bibliográficas - 253
Agradecimentos - 263
- Medida: Altura: 01cm, Largura: 16cm, Comprimento: 23cm
- Páginas: 266 páginas
- Peso: 390 gramas