PÓS-ABOLIÇÃO E QUOTIDIANO, de Kleber Amancio
Para onde foram e como sobreviveram libertos do 13 de maio, os ex-libertos e seus familiares na São Paulo do pós-abolição? Para além das interpretações difundidas por uma historiografia paulista racista e laudatória da “locomotiva do Brasil”, como era denominada a São Paulo branqueada das indústrias, dos imigrantes e mesmo do movimento operário, supunha-se que nós historiadores não poderíamos responder a essa questão, dada a ausência de fontes necessárias.
No entanto, o livro de Kleber Amancio questiona essa assertiva, mostrando que, com argúcia e paciência, o historiador pode estabelecer um diálogo com as fontes, buscando janelas para enfocar grupos sociais aparentemente ausentes dos registros oficiais. Mais ainda, o esforço de Kleber Amancio mostra como o historiador pode promover encontros entre temas improváveis – como o da “vagabundagem” de ex-escravos, que no seu afã de construir vidas autônomas resistiam a se submeter à autoridade de fazendeiros e às regras de trabalhos similares aos da escravidão, e eram por tal criminalizados e o da imprensa negra paulista nacionalista, em diálogo com os projetos de imigração de negros norte-americanos — buscando pontos de convergência.
Inserindo-se em uma nova tendência historiográfica, que vem investindo esforços teóricos e pesquisas documentais na delimitação da temática do pós-abolição, entendida como um período que se inicia com a solução conservadora da escravidão e cuja superação a sociedade brasileira não alcançará antes de atingir níveis sociais de integração mais justos para os afrodescendentes, este livro apresenta-se como contribuição significativa deste jovem e talentoso historiador.
Maria Helena Pereira Toledo Machado
Universidade de São Paulo