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Referência: 9788577510061


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narrativas
Airton Paschoa
80 p., 2007, 14x21 cm, ISBN 978-85-7751-006-1

 

O projeto de Airton Paschoa parece inexeqüível, à semelhança do que ocorre com a vida que levamos. Vem daí o interesse dele, e dela. Afinal, como ser lírico se o mundo mal se deixa sentir e se aquele que deveria senti-lo almeja à proteção de uma toca? Enfim, “que louco agüentaria respirar ao ar livre, sob o sol que sonhamos, sozinho?”

O narrador quer aventurar-se, pôr-se ao largo, “pena que tarde tanto o mar...”. E por isso recolhe-se ao quarto, ao leito, “há dias que acordamos até o pescoço sonhosos”, para logo nos afundarmos “no dia e suas covardias”. Ou ainda: “A luz que recortam as lâminas [da persiana] me enfaixa o corpo docemente”, deste a quem “nunca me faltou a consciência que nasci e vou morrer nesta cama”. Nem aventura nem descanso.

Como a Winnie de Dias felizes, o personagem delineado neste livro poderia dizer: “Bem, seja como for, é o que sempre digo, foi um dia feliz apesar de tudo, outro dia feliz”. Apesar de tudo, inclusive de estar enfiada na terra até a cintura. O nosso autor, por sua vez, prefere enterrar-se nas cobertas, um Platão às avessas, aflito para encontrar revelações no mais fundo da caverna, descrente da limpidez das idéias. Mas também um estóico zureta, testando a todo instante as imunidades conferidas pela ataraxia. Sim, porque num piscar de olhos surgem “manhãs tão absolutas que nos levam quase a cair de joelhos aos pés do Tempo (...) tão soberanas que, coroando mundo-de-deus assim desencantado, nos fazem sentir, mesmo súditos, menos infelizes”.

De fato, a coisa é meio grega. Quando se pega o touro à unha, a coisa é sempre um pouco grega, por mais que a claridade mediterrânea se turve com a fuligem dos nossos dias, do nosso país. Por vezes, para poder sentir, o narrador de Ver navios precisa mesmo desdobrar-se em outros: seu irmão, seus filhos, um pobre velho. Quando o mundo não nos pertence, só podemos senti-lo sendo o que não somos, pois ele só se mostra àqueles que não se interessam por ele. Mas um mundo que nos pertence ainda é mundo? O livro de Airton Paschoa ajuda a pensar e tensionar esses enigmas. Sem resolvê-los — o que só fala a favor de sua grandeza. Rodrigo Naves

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