Independências: circulação de ideias e práticas políticas, org. Juliana Gesuelli Meirelles e Marcelo Cheche Galves
Há quase duas décadas, o professor István Jancsó observou que “A cada época os seus problemas, seus fantasmas e suas esperanças. [...] A quem se dispõe a resistir às patologias que encerram, as crises impõem paciente reflexão com base em obstinado trabalho investigativo, inescapáveis condições da elaboração teórica que possa – e somente ela permite intentá-lo – conferir pertinência às problematizações da matéria histórica que guarda o substrato do enigma brasileiro”.
Tais ensinamentos compunham um conjunto de reflexões emergentes e, portanto, não majoritárias à época, e que balizariam desde então os estudos sobre as Independências a partir das especificidades americanas, resultantes de uma interface entre metrópole e colônia nada linear. Nessa esteira, o livro ora apresentado reúne resultados de pesquisa derivados de uma contínua renovação historiográfica, vinculada a essas premissas. Aqui, o exercício de apreensão do todo que constituía o mundo luso-brasileiro foi praticado tendo como foco as partes: entre o Rio de Janeiro e Lisboa (Lúcia Bastos; Andréa Slemian e Renata Fernandes; Marieta Ferreira); entre Recife, Rio de Janeiro e Coimbra (Paulo Cadena); entre Lisboa e Salvador (Sérgio Guerra Filho); e entre o Rio de Janeiro e Recife (Paula Botafogo).
Se há duzentos anos a multiplicidade de projetos políticos dava o tom da cena pública, redimensionando estratégias discursivas em meio a um mundo em que a imprensa já conquistara status de protagonista dos acontecimentos, os distintos tempos de reescrita sobre esse vivido impuseram novas questões. Em tempos de bicentenário da efeméride, também resultante da fixação de certa memória produtora de solidez e perenidade, este livro espera produzir outros efeitos, próprios do tempo em que se insere, delineado por outros problemas, fantasmas e esperanças.
Sobre os organizadores
Juliana Gesuelli Meirelles é professora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-CAMPINAS) desde 2014. Doutora em História pela Unicamp (2013). Estágio pós-doutoral pela USP (2019-2021). Desde 2019 é pesquisadora colaboradora do Centro de Memória Unicamp (CMU-Unicamp) com o projeto: O nascimento da Vila de São Carlos: memória, política e formação das sensibilidades na sociedade colonial (1774-1822).
Marcelo Cheche Galves é professor da Universidade Estadual do Maranhão. Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense. Estágio pós-doutoral na Universidade NOVA de Lisboa. Pesquisa na área de História do Brasil no século XIX, com ênfase em estudos sobre imprensa e circulação de ideias políticas. Coordena o Núcleo de Estudos do Maranhão Oitocentista (NEMO) e integra a Rede Proprietas (INCT Proprietas), coordenado por Márcia Maria Menendes Motta (Universidade Federal Fluminense), e o Projeto PRONEX – Caminhos da Política no Império do Brasil, coordenado por Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 2.