MERCADORES de BRAÇOS
Riqueza e acumulação na organização da emigração europeia para o Novo Mundo
NA ALVORADA DO SÉCULO XIX iniciou-se a maior movimentação de povos da História, delimitando o período clássico da migração transoceânica que ultrapassaria a virada para o século seguinte. Nesse período, a Itália transformou-se na principal exportadora de mão-de-obra para o Novo Mundo. Os Estados Unidos receberam o maior contingente, depois vieram Argentina e Brasil – este último caracterizado por uma política imigratória bastante ativa na atração de mão de obra estrangeira, representada por São Paulo e seus grandes contratos de introdução de imigrantes subsidiados.
A potencialidade econômica do processo migratório estimulou a especialização das atividades de recrutamento, transporte e distribuição de emigrantes. Negócio próspero que contou com a participação de diversas empresas – companhias de navegação a vapor, companhias ferroviárias, companhias de colonização, armadores, agenciadores –, além dos serviços públicos nos países de origem e chegada.
A análise do movimento de populações entre Itália e Brasil, com especial atenção aos investimentos públicos que financiaram a política imigratória brasileira, sobretudo a paulista, permite apreender como esses recursos foram carreados para companhias de navegação, agências de introdução de imigrantes e outras atividades ligadas ao êxodo. Percebe-se, dessa forma, uma rede de negócios estabelecida nos dois lados do Atlântico, cujos objetivos eram claros: auferir lucros com a emigração.
Sobre o autor: Paulo Cesar Gonçalves nasceu em São Paulo, é mestre e doutor em História Econômica pela USP e pesquisador da Cátedra Jaime Cortesão, onde fez pós-doutorado. Em 2006, publicou Migração e mão-de-obra: retirantes cearenses na economia cafeeira do Centro-Sul (1877-1901) pela Editora Humanitas. Atualmente é professor de História Contemporânea na Unesp (campus de Assis).