O Brasil dos espertos, de Eduardo Dimitrov
Uma análise da construção social de Ariano Suassuna como criador e criatura
Escritor e dramaturgo aclamado, Ariano Suassuna é conhecido também pelo bom humor e pelas frases desempenadas que enlaçam ouvintes e leitores no universo mágico, místico e popular de suas peças e livros. Rir e fazer rir. Duas formas de expressão que ele pratica, com gosto e perícia, na literatura e no teatro. Neles dá vazão a uma forma especial de comédia: “aquela que funde o riso mais desatinado à melancolia mais delicada”.
A definição é de Suassuna. Sintética, ela ilumina a obra e, paradoxalmente, a vida do autor. Se a matéria prima da obra se nutre da comédia, a vida se alimenta da tragédia. E é por isso que ele, como escritor, continuou a ser “aquele mesmo menino que, perdendo o pai assassinado no dia 9 de outubro de 1930, passou o resto da vida tentando protestar contra sua morte”. A frase, emitida sessenta anos depois desse acontecimento trágico, foi escrita e lida por ele na cerimônia que o empossou na Academia Brasileira de Letras, em 1990.
O Brasil dos espertos, de Eduardo Dimitrov, desenha o contexto necessário para situar a trajetória de Suassuna, inseri-la na cena teatral amadora do Recife dos anos de 1940 e analisar as oito peças que ele escreveu 1947 e 1960, com especial atenção aos cenários, às personagens e às relações sociais.
Desta forma, o livro é resultado de uma reflexão surpreendente sobre a troca de favor como forma de sociabilidade e arma poderosa nas mãos (melhor dizendo, nas cabeças) dos personagens espertos. Distinta do trambique praticado pelos poderosos, a esperteza dos pobres dá tônus às peripécias, à comicidade que não separa o riso mais desatinado da melancolia mais delicada, tão bem captada neste livro enxuto e inteligente.
Sobre o autor: Eduardo Dimitrov é professor do Departamento de Sociologia e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de Brasília (UnB) onde coordena o Grupo de Pesquisa Arte, Sociedade e Interpretações do Brasil (CNPq/PPGSOL/UnB). Seus trabalhos perpassam temas que interligam antropologia e sociologia da arte, literatura, história, patrimônio cultural e pensamento social brasileiro. Em 2022, publicou, também pela Alameda, o livro Regional como opção, regional como prisão: trajetórias artísticas no modernismo pernambucano.