Entre o piano e o violão
A modinha e os dilemas da cultura popular (1888-1920)
A obra em questão, que é uma homenagem ao centenário de morte do compositor Ramos Cotoco, procura dialogar com a produção musical brasileira com a finalidade de desvendar alguns aspectos da formação da música urbana na capital cearense. Esse canto, com sotaque próprio, conta a história de homens e mulheres que viveram entre o fim do século XIX e início do século XX, período em que as principais capitais brasileiras passaram por uma série de transformações urbanísticas que impactaram diretamente no campo sociocultural.
Estudar esse universo de sonoridades que perpassa pelas apropriações da crônica musicada da cidade de Fortaleza de Ramos Cotôco, da descendência boêmia de Carlos Severo, das mulheres de Teixeirinha, das praias, jangadas e faróis de Alberto Nepomuceno e Branca Rangel, ajuda o leitor a não só entender os dilemas que esses artistas vivenciaram em busca de cantares que expressassem um jeito peculiar de ver, ouvir, sentir e falar o mundo, mas como os seus sucessores transitaram nessas musicalidades.
O passado e o presente se tocam no balancê de Lauro Maia, no adeus à praia de Iracema de Luiz Assunção, nas velas do Mucuripe de Belchior e Fagner, no pavão misterioso de Ednardo ou na Kalu de Humberto Teixeira.
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Traduzir-se (parafraseando o disco de Fagner), era a tônica de um período marcado pelas diversas intermediações e fusões entre um mundo que incorporava novas sonoridades e práticas musicais. Nesse sentido, entende-se que os cantares cearenses formados nesse período através da modinha podem ser comparados a uma miscelânea cultural, que, na apropriação de ritmos e timbres, se entrelaçam o local, o nacional, o estrangeiro, o oral, a tradição e a modernidade. A obra em questão apresenta os cantares cearenses a partir dos olhares de compositores que se apropriam de duas experiências musicais que passam por dissensos e consensos, a do piano e a do violão.
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Sobre a autora: Ana Luiza Rios Martins é mestre em História e Culturas pela UECE. Atualmente realiza seu doutoramento em História na UFPE, atuando em pesquisa sobre os compositores Lauro Maia e Humberto Teixeira. É membro do Grupo de Pesquisa DÍCTIS - Laboratório de Estudos e Pesquisa em História e Culturas, organizado pelo Dr. Francisco Damasceno. Tem experiência na área de História Cultural, atuando principalmente no estudo interdisciplinar entre História e Música.
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SUMÁRIO
LISTA DE IMAGENS - 11
MUSICALIDADES CEARENSES, MUSICALIDADES BRASILEIRAS… - 13
INTRODUÇÃO - 19
CAPÍTULO 1 - O circuito musical em Fortaleza no fim do século XIX e início do XX - 31
As disputas pelos espaços de lazer - 33
Práticas musicais no cotidiano dos citadinos - 56
Músicos e músicas na terra de Iracema - 78
CAPÍTULO 2 - Voz e piano: modinha de salão e cultura rural nos cantares de Alberto Nepomuceno, Branca Rangel e Juvenal Galeno - 113
A Modinha brasileira e a busca de uma identidade sonora para a nação - 114
As influências do Romantismo na Modinha de Salão - 122
Alberto Nepomuceno, Branca Rangel e Juvenal Galeno: trajetórias cruzadas nas salas de concerto de Fortaleza - 134
Do Ceará para o Brasil: A raça, o meio e o folclore na música que nasce no “Norte” - 150
CAPÍTULO 3 - Voz e violão: modinha seresteira e cultura urbana nos cantares de Ramos Cotôco, Teixeirinha e Carlos Severo - 183
O violão no Rio de Janeiro: entre o popular e o populacho - 185
Ramos Cotôco, Teixeirinha e Carlos Severo: Trajetórias cruzadas na boemia de Fortaleza - 201
Humor, sátira e pilheria: a invenção do popular na praça pública - 219
CONSIDERAÇÕES FINAIS - 271
LISTAGEM DAS FONTES - 273
BIBLIOGRAFIA - 279
AGRADECIMENTOS - 287
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