“Yes, nós temos bananas”
Cinema industrial paulista: a Companhia cinematográfica Vera Cruz, atrizes de cinema e Eliane Lage (Brasil, 1950)
Esse livro é uma bela viagem sobre a experiência cinematográfica brasileira revelada pela análise dos estúdios da Companhia cinematográfica Vera Cruz e pela aproximação do foco no acompanhamento da trajetória da atriz Eliane Lage. O trabalho de Ana Carolina Maciel, original e criativo, dialoga de maneira intensa com a historiografia sobre o cinema. Destaca-se, nesse diálogo, uma aproximação mais teórica e conceitual que busca definir o cinema como uma experiência moderna – incluindo-se aí a discussão sobre o imaginário e as mitologias. Paralelamente, o livro retoma trabalhos voltados para a análise mais específica dos estúdios Vera Cruz, com destaque para um conjunto de questões relevantes associadas ao cinema como uma atividade industrial e seus limites de implementação pelo empresariado brasileiro.
A historiadora faz o uso de um conjunto variado de documentos, demandando diferentes estratégias de abordagem – assim a imprensa periódica, os depoimentos, a publicidade, as imagens da filmagem, os escritos biográficos, a documentação administrativa da empresa, foram cada qual associados a um conjunto de questões que ganharam sentido na arquitetura final da obra.
A segunda característica essencial desse trabalho tem a ver com a forma da autora se posicionou em relação a narrativa histórica e a narrativa cinematográfica. O uso dos recursos fílmicos é evidente na estruturação da obra, revelando uma experiência de fazer e escrever sobre cinema. Entretanto, mais do que um recurso retórico o que se evidencia na sua forma expositiva é uma intertextualidade com o pensamento fílmico. Assim as seqüências possuem autonomia de argumentação, mas ao leitor o que se apresenta é um roteiro em que histórias, como a Eliane Lage se cruzam com outras histórias, como a do início da Vera Cruz. Por isso, na montagem do livro se exibe um diálogo estreito entre a experiência da autora como documentarista e sua capacidade de elaborar um conhecimento da prática de se fazer cinema.
Sobre a autora: Ana Carolina de Moura Delfim Maciel é bacharel em História, mestre em multimeios e doutora em História (Unicamp) com doutorado sanduíche pela EHESS (Paris). Pesquisadora associada do LABHOI/ UFF, atualmente desenvolve pesquisa de pós-doutorado no Museu Paulista/ USP. É autora de artigos e capítulos de livros sobre cinema brasileiro (ficcional e documental), historiografia, memória, história oral e imagem. Como realizadora dirigiu os documentários: Amor é um lugar vazio (2000), Eliane (2002) e Yes,nós temos bananas (2008). É membro do Comitê de Seleção do Festival de Documentários É Tudo Verdade.