O aprendizado da força - A formação do soldado de Polícia Militar de São Paulo, de Thomas Machado Monteiro
Desde há décadas, cidadãs e cidadãos brasileiros vem assistindo com inquietação o recrudescimento da violência urbana, em especial as graves ameaças à vida de quem quer que seja. Muitos acreditam que isso vem acontecendo porque as polícias não se encontram preparadas para contê-las dentro do estado de direito. Fala-se que a formação dos policiais não acompanhou mudanças na economia dos crimes e apresenta lacunas. Afinal, como são formados nossos policiais?
Este livro, cujo objeto empírico é a PMESP, procura justamente responder a essa questão. Baseada em investigação antropológica, suas estratégias metodológicas consistiram em etnografia didática, denominada teorização, da sala de aula com vistas a conhecer o que é ensinado.
Penetrou no imaginário subjetivo do trabalhador policial bem como descortinou as singularidades de sua cultura profissional, estratégia da teatralização, que consiste na transmissão de saberes tendo por referência a simulação de cenários policiais. Através da ritualização dos mitos que rondam a PMESP, em especial tecida em cerimônias institucionais, foi possível conhecer suas formas de hierarquização, estruturas internas, concepções de ensino, práticas cotidianas, seus códigos e valores.
O refinamento da análise conduziu ao reconhecimento de que a formação desse profissional da segurança pública é marcada por profundas ambivalências, entre o que é o trabalho policial em si e as funções exercidas pelos atores policiais na sociedade, razão de tantas críticas entre os quais o uso arbitrário da violência.
Sérgio Adorno
Coordenador Científico do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) – USP
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Sobre o autor: Thomas Machado Monteiro é jornalista por formação, mestre em História pela Universidade de São Paulo, MBA em economia pela Rutgers Business School e Doutor em Ciências Sociais pela Unicamp, onde se especializou em estudos de antropologia e sociologia do policiamento. Atualmente reside e trabalha no Reino Unido.
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Sumário
Prefácio 13
Introdução: notas de uma etnografia da Escola Superior de Soldados de Pirituba 17
Capítulo I: Ambivalência e Estrutura 33
O que é um Soldado da Polícia Militar de São Paulo? Situando o objeto de estudos 43
A força ambivalente: perspectivas gerais sobre modelos policiais e educação na PMESP 47
Mas o que ensinar aos Soldados? Problemática Geral 58
Entre a burocracia e a dinamicidade: perspectivas culturais 64
O Curso de Formação de Soldados: cultura e didática 70
Sobre os materiais norteadores da educação realizada na ESSd 74
Aplicação dos materiais no ambiente da ESSd 79
Capítulo II: Sala de Aula: burocracia e cultura de trabalho 87
Dinâmica Geral do currículo do Curso de Formação de Soldados 91
Como o currículo ministrado na ESSd? 101
Como se escolhem os assuntos discutidos em sala de aula? 105
Atual grade curricular no momento da pesquisa 108
O que as cargas horárias dizem sobre as concepções de policiamento 114
Matérias práticas x sala de aula 116
Matérias orientadas para o policiamento comunitário, policiamento ostensivo e institucionais 117
Jurídicas e teoria do trabalho policial 122
Atividades complementares 126
Plano de Matéria (PDM) e execução em sala de aula cenas do Curso de "Direitos Humanos e Ações Afirmativas" 129
Sobre a dinâmica de hierarquia em sala de aula 132
Sobre as discussões extracurriculares e os sentimentos morais compartilhados culturalmente 135
Sobre a lógica de autopreservação como tensor moral 138
Capítulo III: Atores sociais e atores policiais: a teatralização na formação de Soldados da PMESP 145
Procedimentos Operacionais Padrão (POP), o que são? 152
Os POP e as concepções de policiamento 155
Cena 1: moradora de rua impedindo um comércio de ser aberto 164
O role playing na construção das identificações o corpo policial em oposição aos demais atores sociais 171
Cena 2: abordagem ao pedestre suspeito e ao veículo suspeito 177
O processo de corporalização das técnicas do POP e as concepções de policiamento 183
Cena 3: Assalto a banco com reféns 189
A espetacularização da polícia como formação 193
Cena 4 e 5: Abordagem ao baile funk e chacina na Chácara 196
O Aprendizado da Força 11
A guerra contra o baile funk: da escola de formação ao mundo real 201
Narrativas inacabadas 209
Capítulo IV: 1932 na Escola Superior de Soldados, uma performance institucional 217
1ª fase da cerimônia - Separação 223
Educação institucional e corporação 226
2ª fase da cerimônia - Liminiaridade 231
"Jamais foram brasileiros": uma breve historiografia do discurso regionalista de 1932 236
"Perdemos, mas vencemos": a versão oficial 238
3ª fase da cerimônia - Reintegração 245
Transversalidades: as ideias regionalistas na cerimônia realizada pela PMESP 249
Traidores ou heróis? FP paulista no conflito armado 251
9 de Julho, PMESP e Estado de São Paulo em 2016 254
Instituição e política 257
Morte e funeral: simbolizando a moralidade 259
Conclusão 267
Lista de Ilustrações 275
Lista de Gráficos 277
Lista de Siglas e Abreviações 279
Bibliografia 281
Anexo 1 305
Anexo 2 319
Anexo 3 327
Agradecimentos 335