Literatura e marginalidade, de Vima Lia Martin
O cotidiano das classes marginalizadas no Brasil e na África abordados e comparados pela literatura
Brasil e Angola possuem muito mais do que o idioma em comum. Ambos têm suas sociedades marcadas pela grande desigualdade social, resultado do passado colonial no qual estavam submetidos a Portugal e consolidado pelas elites que conduziram a história dos dois países.
Esse contexto histórico não deixou de influenciar a produção literária de certos autores nesses dois países. Em Literatura e Marginalidade Vima Lia Martin traz ao leitor o diálogo entre duas importantes obras, Malagueta, Perus e Bacanaço, do brasileiro João Antônio, e Luuanda, do angolano Luandino Vieira. Escritas há mais de quarenta anos, ambas apresentam uma atualidade surpreendente.
Através delas, os autores trazem para a literatura a dura realidade das camadas marginalizadas de Brasil e Angola, problematizando e denunciando – cada um a seu modo – os valores que sustentam a desigualdade social de ambos os países, desestruturando os discursos e as práticas autoritárias colocadas em prática pelas elites. Em suma, desnuda esse descompasso existente entre a norma institucionalizada e a conduta do corpo social que, de algum modo, não a reconhece como legítima.
O sentido desse diálogo proposto pela autora é justamente de comparar esses discursos literários contestadores que dão forma e amplificam o grito dos excluídos. Um diálogo descolonizado que, ao aproximar projetos ficcionais engajados, formulados em língua portuguesa, busca não apenas contribuir para nossa percepção de paralelos sociais e culturais mas, principalmente, ampliar nossa capacidade de apreender as experiências alheias como parte constitutiva de nossa própria humanidade.
Sumário:
Introdução: os sentidos do diálogo - 9
Cap. I: contestar é preciso, viver... - 17
João Antônio: melancolia e combatividade - 19
Luandino Vieira: lucidez e utopia - 25
Cap. II: a tensão entre norma e conduta - 33
Cap. III: modos de contar mundos - 43
Os contos de João Antônio - 46
As estórias de Luandino Vieira - 56
Cap. IV: Marginalidade e desencanto em Malagueta, Perus e Bacanaço - 67
"Contos gerais" ou angústia dos otários - 72
"Caserna" ou a carência de soltados - 99
"Sinuca" ou a artimanha dos malandros - 113
A tradução do impasse - a perspectiva melancólica de João Antônio - 159
Cap. V: a celebração da marginalidade em Luuanda - 167
"Vavó Xíxi e seu neto Zeca Santos" ou a fragilidade dos mussequeiros - 172
"Estória do ladrão e do papagaio" ou a solidariedade dos capianguistas - 192
"Estória da galinha e do ovo" ou a sabedoria dos monandengues - 219
A superação do impasse: a perspectiva utópica de Luandino Vieira - 234
Conclusão: compromisso ético e resistência - 241
Bibliografia - 249
Agradecimentos - 259
ISBN: 978-85-98325-63-7