Heranças guardadas e transições ponderadas, de Lélio Luiz de Oliveira
No município de Franca (estado de São Paulo), entre os anos de 1890 a 1920, a dinâmica da cafeicultura ligou a região ao mercado externo, porém, ao mesmo tempo, sem se tornar monocultura, promoveu a retroalimentação dos setores destinados ao abastecimento interno, como a pecuária e a agricultura de alimentos.
Nesse contexto, houve, em grande medida, a permanência da estrutura material das propriedades rurais, bem como limitada alteração da estrutura fundiária. Diante da diversificação das atividades econômicas, inclusive no meio urbano, a maior porcentagem das pessoas continuou a se dedicar a profissões agrícolas - lavradores e criadores. A maior parte da riqueza dos proprietários permaneceu no campo. Diante dos reveses do mercado, boa porção dos resultados da produção foram guardados ou investidos em imóveis.
No período estudado (1890-1920), o município de Franca, região fronteiriça, servia de aceiro às forças avassaladoras da cafeicultura monopolista. Os fazendeiros da região assimilaram com parcimônia o empreendedorismo dos paulistas, sem relegar o comedimento das tradições. O processo de modernização do campo foi controlado, ponderado no limiar entre o novo e o velho.
SOBRE O AUTOR: Lélio Luiz de Oliveira é doutor em história econômica pela Universidade de São Paulo e professor do Departamento de Economia da USP-Ribeirão Preto.