O pão e o vinho da terra
Alimentação e mediação cultural nas crônicas quinhentistas sobre o Novo Mundo

Desde os primeiros contatos dos portugueses com os habitantes da América, um dos grandes problemas a enfrentar dizia respeito à alimentação enquanto necessidade básica para a sobrevivência. Isso era válido não só para o dia a dia dos colonos, mas igualmente fundamental nas longas travessias marítimas e durante as expedições terrestres de reconhecimento do território.

Sem víveres, seria impossível um empreendimento de tal envergadura. É por isso que os cronistas portugueses do século XVI, e demais observadores da época, sempre descreveram com detalhes a natureza americana, a fim de informarem sobre a disponibilidade de alimentos que pudessem garantir e ao mesmo tempo incentivar a vinda dos colonos para esse lado do Atlântico.

Para transformar em comida os produtos que a natureza oferecia era preciso aprender a processá-los a partir de um conjunto de operações físicas e mentais, às quais denominamos cultura. É exatamente a dimensão cultural da alimentação que norteia o presente livro de Rubens Leonardo Panegassi, que, ao tratar de um tema aparentemente simples e trivial, como a alimentação, revela a complexidade de um campo de estudos que a cada dia ganha mais destaque na historiografia brasileira.

Neste livro, a alimentação se apresenta como mediador cultural no contato entre europeus e americanos, interferindo na construção das diferenças de identidade e de hierarquia social, numa clara leitura antropológica da documentação consultada.

É no caráter simbólico da comida e no domínio do imaginário que a análise ganha densidade, evidenciando o impacto de sua formação e da influência dos estudos de Laura de Mello e Souza, sua orientadora, na análise que empreende sobre a colonização portuguesa na América.

Leila Mezan Algranti