Nelson Rodrigues: o fracasso do moderno no Brasil
Referência: 9788579391583
Nelson Rodrigues: o fracasso do moderno no Brasil
Através da obra teatral de Nelson Rodrigues, este livro analisa as tensões em torno da existência do moderno no Brasil da primeira metade do século XX.
Trata-se de uma escrita da história na qual a dimensão cultural transpira e revela o político, deslocando-o de sua efemeridade temporal para a longa duração e realizando, assim, uma articulação entre temporalidades. Para além dos fatos cotidianos, que informa o caminhar cronológico da história, o autor trabalha com fenômenos de mentalidade, situados no âmbito do cultural, para indicar o desenrolar dos tempos. A chave para essa leitura é a relação entre o publico e o privado. O resultado é uma tentativa ousada de utilizar o referencial conceitual que distingue a espera pública da privada para observar um momento da história da República brasileira na qual a estrutura social que vai se constituir em matéria-prima da sociedade de massas no país: a baixa classe média, alvo preferido da reflexão rodrigueana nos textos analisados pelo autor.
O dramaturgo questiona a existência do moderno no Brasil por meio do teatro. Desmancha, no domínio do privado, as certezas dos discursos ideológicos, próprio da esfera do público. Se o estado é o agente modernizador do país a partir de 1930, a moral privada não se submete a esse ideal; ao contrário, transgride-o escandalosamente. Por outro lado, se a família é o alicerce da nação, a ela integrada num conluio para a legitimação do poder vigente, ela é, ao mesmo tempo, o lugar da desagregação dos laços do convívio humano.
Nelson Rodrigues expõe a realidade do país através de detalhes perversos da vida cotidiana. Alexandre Pianelli Godoy colhe esse detalhe e enxerga ali temporalidade, ou seja, história se fazendo. O entrelaçamento entre história vivida e teatro na produção do discurso historiográfico é exemplar, o que faz do trabalho apresentado uma análise importante de um momento da história republicana brasileira e um modelo instigante de escrita da história.